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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Soneto fermentado

Há pouco mais de um mês, meu amigo Edmar Hübner da Silva fez aniversário, eis o poema encomiástico que fiz:

Soneto Fermentado

Bebamos mais, pois hoje é permitido,
É lícito e a garganta solicita.
Se o cristão pelo vinho é redimido,
É certo que o boêmio o imita.

Bebamos mais, assim a mente agita,
Assim se exaltam todos os sentidos:
A feiura até se torna mais bonita
E o que era chato fica divertido.

Bebamos mais! e fodam-se os limites...
Limites são pros frouxos e otários,
E nós somos a etílica elite

Que faz o triste se tornar hilário.
E hoje Fígado, Cirrose e Hepatite
Lhe desejam um feliz aniversário!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Orgasmo em várias línguas


Esse texto de  Ruy Castro é delicioso, faz a gente rir e dá prazer como um bom e velho orgasmo (tomei a liberdade de mexer numa frase que me pareceu estranha, a preposição substituída por um pronome relativo está entre colchetes): 


Um amigo meu carioca, de passagem por Lisboa - vamos chamá-lo Guilherme, embora este seja o seu nome verdadeiro - arranjou uma namorada portuguesa. Depois de um revigorante bacalhau com grelos numa tasca sobre o Tejo foi para o berço com a cachopa. No melhor da festa, quando as apaixonadas piruetas encaminharam para o inexorável e delirante clímax, a garota começou a exclamar: "Ai, que me vem! Ai, que me vem!" O Guilherme apanhou um susto. Achou que a moça estava a ter um troço. Na verdade, estava. Estava tendo um lindo orgasmo à melhor maneira alfacinha.
Quando Guilherme voltou ao Rio e me contou a história fiquei pensando sobre como, mesmo quando se trata de sexo, que é uma das poucas actividades humanas em que todos falam mais ou menos a mesma língua, por vezes é necessário um intérprete. "Ai, que me vem! Ai, que me vem!", com seu sabor tão 1890, à Eça ou Camilo, significa o nosso"Estou Gozando! Estou Gozando!", só que muito mais delicado e poético. As brasileiras bem que podiam adoptá-lo.
Outro conhecido meu, que andou pela Indonésia em negócios certamente escusos, foi surpreendido quando, numa situação idêntica, a moça se pôs a gritar "Aku Keluar! Aku keluar!". O fulano quase caiu da cama, temendo estar infringindo algum tabu local. Mas não, a moça estava apenas verbalizando o prazer daquele [que aquele] honesto papai-mamãe lhe provocava.
Bem, para me precaver de possíveis mal-entendidos se e quando a situação se apresentar, procurei saber como as mulheres de diferentes culturas dizem "Estou Gozando! Estou Gozando!" - não ao pé da letra, claro, mas seu equivalente, ou seja, as palavras incontroláveis que vêm do âmago do prazer no momento do orgasmo. Para isso, consultei minhas amigas brasileiras e estrangeiras versadas em línguas, a própria e a dos outros. Limitei a pesquisa às mulheres porque não confio nos homens e também porque me parece que elas prestam mais atenção nessas coisas. Uivos, bufados e ruídos imorais, tipo "Uuuuuuu!", "Grmmmmmmphkkkk!" ou "Brjjjwwkkk!", comuns a todas as culturas, foram descartados assim como as interjeições medíocres como "Yeah! Yeah!", "Oui! Oui!" e "Ja wohl! Ja wohl!" que americanas, francesas e alemãs sem imaginação disparam repetitivamente quando estão gozando. Concentrei-me nas declarações mais articuladas de mulheres que levam o seu orgasmo a sério e descobri que, em alguns casos, a maneira pela qual este ou aquele povo declara "Estou Gozando! Estou Gozando!" ajusta a entender o respectivo temperamento nacional.
Evidentemente que para as línguas mais manjadas não precisei consultar ninguém. A americana diz "I'm coming! I'm coming!". A Francesa "Je viens! Je viens!". A alemã "Ich kamme! Ich kamme!". Tudo isso significa, literalmente, "Estou vindo! Estou vindo!" ou "Estou chegando! Estou chegando!". A sueca emite uma ligeira variante: "Det gar! Det gar!" - algo assim como "Está vindo! Está vindo!" ou "Está chegando! Está chegando!". Como se vê a ideia de que um orgasmo é um fluido em movimento que está a caminho e não demora é universal. Mas há povos que conseguem exprimi-lo de maneira mais enfática. A espanhola, por exemplo, grita "Estoy corriendo! Estoy corriendo!" - o que pode levar um brasileiro incauto a pensar que a moça vai empurrá-lo para fora de cama e sair como uma bala em direcção à porta e justamente quando ele achava que estava abafando.
Já a Japonesa é tão reservada que só deixa para falar depois. Quando você pensa que ela vai chegar ou está vindo uma voz suspira no seu ouvido: "Itchatta yo", que significa um singelo "Acabei de ir". E só diz isso uma vez sem ponto de exclamação. Pode ser meio frustrante para o parceiro mas, se ela declara que já foi é porque está tudo bem - e você que trate de ir também antes que ela resolva voltar.
Em Hebraico é a mesma coisa com a diferença de que a mulher diz "Ani gomeret" - significando um simples e declarativo "Terminei" só faltando assinar e reconhecer a assinatura. Compare isso com o carnaval feito por uma italiana que, ao sentir que vai gozar, proclama triunfante "Arriva!!! Arriva!!! Arriva!!!" em triplicata e o homem tem a sensação de que, sozinho, vale por um batalhão do Garibaldi, todo embandeirado.
Diante disso começo a achar óptimo o nosso "Estou Gozando! Estou Gozando!". É alegre, amoroso e ligeiramente sacana. Mesmo porque gozar tem vários outros sentidos no Brasil e cada qual mais agradável: rir, fazer graça, sentir prazer, desfrutar de uma coisa boa, viver satisfeito. Serve também para você se arriscar a levar uma boa gozada da mulher se não a fizer gozar.


Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2007/04/orgasmo_em_vari_1.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+OBVIOUS+%28obvious+magazine%29#ixzz1Y1YJWsEO

sexta-feira, 19 de agosto de 2011


Transcrevo abaixo os sonetos 8, 17 e 18 de Glauco Mattoso. No primeiro, a costumaz escatologia aqui presente amiúde; nos outros, um posicionamento mais político:



#8 MANIFESTO OBSONETO [1981]

[pros poetas ditos "sujos"
que nunca esquecem o modess e trocam de meia
de meia em meia hora]

Isso não é poesia que se escreva,
é pornografia tipo Adão & Eva:
essa nunca passa, por mais que se atreva,
do que o Adão dá e do que a Eva leva.

Quero a poesia muito mais lasciva,
com chulé na língua, suor na saliva,
porra no pigarro, mijo na gengiva,
pinto em ponto morto, xota em carne viva!

Ranho, chico, cera, era o que faltava!
Sebo é na lambida, rabo não se lava!
Viva a sunga suja, fora a meia nova!

Pelo pêlo na boca, jiló com uva!
Merda na piroca cai como uma luva!
Cago de pau duro! Nojo? Uma ova!





#17 SÁDICO [1999]

Legal é ver político morrendo
de câncer, quer na próstata ou no reto,
e, p'ra que meu prazer seja completo,
tenha um tumor na língua como adendo.

Se for ministro, então, não me arrependo
de ser-lhe muito mais que um desafeto,
rogar-lhe morte igual à que um inseto
na mão da molecada vai sofrendo.

Mas o melhor de tudo é o presidente
ser desmoralizado na risada
por quem faz poesia como a gente.

Ele nos fode a cada canetada,
mas eu, usando só o poder da mente,
espeto-lhe o loló com minha espada.











#18 MASOQUISTA [1999]

Político só quer nos ver morrendo
na merda, ao deus-dará, sem voz, sem teto.
Divertem-se inventando outro projeto
de imposto que lhes renda um dividendo.

São tão filhos da puta que só vendo,
capazes de criar até decreto
que obrigue o pobre, o cego, o analfabeto
a dar mais do que vinha recebendo.

Se a coisa continua nesse pé,
acabo transformado no engraxate
dum senador qualquer, dum zé mané.

Vou ser levado, a menos que me mate,
à torpe obrigação de amar chulé,
lamber feito cachorro que não late.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Para permanecer na temática edênica, um poema de Gisela Rao:


Motel Paradise

- Oi, eu sou o Adão...
- Adão?
- É, Adão, o Peladão...
- Ah, sei, já ouvi falar...
Eu sou a Eva...
- Minha costela tá doendo...
- Heim?
- Nada não, deixa para lá...
- Bom: vamos começar, né?
- Claro...
O que que eu faço?
- Ele não te ensinou?
- Nem...
- Ah, sei lá...
Eu acho que você põe a mão nesses dois
montinhos bicudos aqui em cima...
- Assim?
- É... Mas pode largar a maçã, se quiser...
- Ah, é, desculpe... Tô um pouco nervoso... E agora?
- Não tenho certeza, mas acho que você gruda o lugar
com que você fala no meu e mete esse negócio
vermelho molão lá dentro...
- Achim?
- Credo! Que bafo de onça...
- Desculpe... Peraí que eu vou mastigar umas pétalas de flor...
Nham, nham, nham... Melhorou?
- Melhorou...
- E agora?
- Sei lá... Tem certeza que Ele
não te disse?
- Disse... Disse que era para
você fazer carinho nesse treco
pendurado aqui que ele cresce...
- Nem morta! Eu tenho nojo...
Além do mais, eu também tenho medo. Sei lá de que
tamanho fica esse bicho...
- Precisa ficar com medo, não... Aposto que é menor
que certas coisinhas que você já viu por aí...
- Tá insinuando o que, heim, moleque?!?
- Tô falando dessa cobra asquerosa que não larga do
teu pé...
- Vai catar coquinho, cabeça de melão...
- Escuta aqui, ô, Maria Costela... Vamos começar
logo o serviço porque eu não tô a fim de agüentar
piripaque de mina fresca.
- Maria Costela é esse buraquinho que você tem aí atrás...
- Vai, abre logo essas pernas...
- Vê lá como fala, heim, Zé Parreira...
- Peraí... Peraí... Ó, o bicho cresceu, viu?
- Olha só... quem diria... E ficou duro pacas...
Ai... E se doer?
- Não dói, não...
- Tá bom, então manda pau...
- Taí, gostei... Vamos chamar o treco pendurado de pau!
- Legal... E ela?
- O buracão?
O buracão a gente chama de caverna peluda...

- Muito romântico...
- Arghhh!!!!
- Que foi?
- Tá tudo melado aí dentro!!!
Não vou meter meu "pau" aí nem que a
vaca tussa...
- Saco!
Vou reclamar com Ele..
Aliás, sabe o que eu acho? Acho que você é um
tremendo gayzão!!!
- Gayzão? Que que é isso?
- É homem que gosta de homem...
- Cadê o outro homem, burra?
- É mesmo, fica difícil ser gay por aqui...
- Nossa! Olha aquilo!!!
- O que?

Clunca!

- Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!! Cafajeste!
Doeu viu...
- Relaxa, benzinho...
O pior já passou...
Olha, faz assim: quando eu for para cá,
você vai para lá... Quando eu for pra lá, você vem pra cá...
Tá bom?
- Tá...
- Então, vamos! Um, dois e...

Balança, balança, balança...

- Ai, Adão... Assim tá gostoso...
- Yes! Yes! Yes!
Hei! Para que serve esse negocinho aí em cima do
cavernão peludo?
- Não sei, mexe para ver...

Clica! Clica! Clica!

- Ai, mexe mais...
Não para! Não para! Não para!!!!!!!!!
- Não vo...vo... vo... vou... pa.. pa... pa...rar...
- Aaa...
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
- Ooo...
Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Pausa

- Ai, meu Deus do Céu... O que foi isso?
- Não sei, mas para mim foi bom demais...
Foi bom para você?
- Se foi...
Senti uma coisa estranha...
- Como o que?
Como se estivesse... no PARAÍSO...
- Pode crê!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Este é primeiro soneto da série Sonetos Luxuriosos, de Pietro Aretino (1492-1556)

Fottiamci, anima mia, fottiamci presto
perché tutti per fotter nati siamo;
e se tu il cazzo adori, io la potta amo,
e saria il mondo un cazzo senza questo.  

E se post mortem fotter fosse onesto,
direi: Tanto fottiam, che ci moiamo;
e di là fotterem Eva e Adamo,
che trovarno il morir sì disonesto. 

- Veramente egli è ver, che se i furfanti
non mangiavan quel frutto traditore,
io so che si sfoiavano gli amanti. 

Ma lasciam'ir le ciance, e sino al core
ficcami il cazzo, e fà che mi si schianti
l'anima, ch'in sul cazzo or nasce or muore; 

e se possibil fore,
non mi tener della potta anche i coglioni,
d'ogni piacer fortuni testimoni


A tradução a seguir de J.G. de Araújo Jorge quase transformou o poema em literatura infantil

Amemo-nos sem termo nem medida,
pois que só para o amor temos nascido...
Vive por nosso amor! - é o meu pedido,
pois sem tal bem, que valeria a vida?

E se depois da vida já perdida
ainda se amasse. . . Eu, tendo já morrido
pediria outro amor - o bem querido -
para poder seguir gozando a vida.

Gozemos pois, tal como certamente
o primeiro casal no éden, ao ser
aconselhado assim pela serpente.

Que nos perdemos por amar se diz...
Tolice! Outra é a verdade, podes crer:
Só quem não ama sente-se infeliz!


A tradução de José Paulo Paes já é bem mais fiel:







Fodamos, meu amor, fodamos presto,
Pois foi para foder que se nasceu,
E se amas o caralho, a cona amo eu;
Sem isso, fora o mundo bem molesto.

Fosse foder após a morte honesto,
“Morramos de foder!” seria o meu
Lema, e Eva e Adão fodíamos por seu
Invento de morrer tão desonesto.

É bem verdade que se esses tratantes
Não comessem do fruto traidor,
Eu sei que ainda fodiam-se os amantes.

Mas caluda e me enfia sem temor
Esse pau que à minha alma, em seus rompantes,
Faz nascer ou morrer, dela senhor.

                            E se possível for,
Quisera eu pôr na cona esses colhões
Que de tanto prazer são espiões.







E eu também me animei a traduzir (será que terei ânimo para enfrentar os trinta sonetos da série com meu italiano de Mezenga?)


Fodamos, meu amor, fodamos muito,
Foder será nosso único trabalho,
Amo a greta, amas o caralho, 
E sem foda o mundo fica dissoluto.


Se houver foda pra nós após o luto:
"Foder até morrer" é a lei que espalho,
Eva sobre Adão, em seu vergalho,
Fodeu a foda de que a morte é o fruto.


E ainda que os edênicos farsantes
Não escutassem à cobra traidora,
Foderiam o tempo todo os amantes.


Deixemos disso, e mete a tentadora
pica em meu peito, co'ar dilacerante
à alma, que finda ou é inda vindoura;


mete também agora
dentro da greta esses colhões que ante
o prazer ficam, mas sempre estão de fora.






Confesso que achei a quarta estrofe esquizofrênica, mas não foi erro de interpretação não, está lá no original. Ademais é uma tradução que comecei ontem à tarde e findei com mais uns quinze minutos de trabalho hoje. Não é por certo a versão definitiva. Há que ser melhorada.


Soneto de reflexão sobre os efeitos dos excessos da luxúria no estado físico dos ninfomaníacos.

Os vários e variados intercursos 
Causaram em ambos avarias grandes:
A mim muito me arde o prepúcio
E trago esfolada toda a glande.

E creio que também não tinhas planos
De que uma simples fuga da rotina
Deixar-te-ia em frangalhos a vagina
E em tal estado te faria o ânus.

Mas esses são os ossos do ofício
Da nossa amizade colorida
Que, mesmo castigando-te orifícios,
Torna a nós menos tediosa a vida.
Foder é nosso prazer e nosso vício,
Não reclames, então, de estar fodida.


Esse poeminha eu escrevi quando tinha dezoito anos, é o primeiro gérmen do que faço hoje (Isso é que é responsabilidade! Só comecei a escrever putarias depois da maioridade).

Donzelinha do Brasil

Donzelinha, não ligues pro que dizem de ti
é por inveja, má fé ou mau gosto
que essa gente te chama aqui
por apelido, há muito, já posto.

Não ligues para as bobagens
dessa gente insensata e inculta:
que cultura não tem na bagagem
e, por isso, te chama de puta.

Não dês atenção a tolos boatos
que espalham e que por aí correm
menosprezando teus sublimes atos
com impropérios que falsamente os forrem.

Dizem que da tua janela dás um minuto
pra te apalparem os seios. e de imediato,
por o tempo ser demasiado curto,
assemelham-se os homens a carrapatos.

Trata, donzelinha, com muito despeito
a quem, sem causa, te diz vagabunda
só por metade da cidade te chupar os peitos
e a outra parte te foder a bunda.

É inveja dessa gente indelicada,
e por serem tão queridas tuas tetas
chamam-nas de caídas, despencadas.
e de aberta e larga, alcunham-te a boceta.

E por falta de um gosto refinado
dizem não ser artístico o teu nu,
e o recanto outrora tão amado
é dito um largo e cavernoso cu.